Discutimos em diversos texto a importância do QaQc para a garantia e controle dos dados e como esse processo trás transparência e confiança para o empreendimento. Para apresentar um caso didático da não utilização do QaQc e os impactos financeiros que isso pode causar iremos relembra o caso Bre-X.
A fraude da Bre-X Minerals Ltd na Bolsa de Valores de Toronto, no Canadá, é um exemplo clássico de como não se deve avaliar e negociar recursos minerais. Esse caso tem sido frequentemente mencionado em palestras e cursos de geologia em todo o mundo.
A companhia de auditoria independente foi responsável pela descoberta desse grande golpe, que levou a supervalorização das ações da Bre-X Minerals Ltd.
A pequena mineradora canadense anunciou em outubro de 1995, no sudeste da Indonésia, a maior mina de ouro do mundo, com cerca de 850 toneladas do metal.
A empresa canadense associou-se a uma parceira norte-americana, a Freeport MacMoRan Cooper & Gold Inc. O geólogo holandês Michael De Guzman foi contratado para fazer a certificação do depósito e divulgou publicamente que a jazida possuía 6.500 toneladas de ouro, quase 8% dos recursos mundiais da commodity.
A Bre-X tornou-se uma empresa em ascensão e, em maio de 1996, o preço de suas ações ultrapassou US$ 200, atingindo um valor de mercado líquido de mais de US$ 6 bilhões.
Em junho de 1996, a Bre-X divulgou que o depósito de Busang tinha recursos de 39 milhões de onças de Au, um mês depois, a estimativa aumentou para 47 milhões de onças de Au.
Depois de 10 meses de disputa com o governo indonésio, a Bre-X e a Freeport McMoRan chegaram a um acordo em fevereiro de 1997 para o desenvolvimento do Projeto Busang: a Bre-X fica com 45%, a Freeport com 15% e o governo indonésio e grupos privados ligados a ele com 40%.
No mesmo mês, a Bre-X divulgou uma nova estimativa, aumentando os recursos de Busang para 71 milhões de onças de Au. O vice-presidente da Bre-X, John Felderhof, relatou em entrevista à Fortune Magazine que o depósito Busang poderia ter até 200 milhões de onças troy (6.900 toneladas curtas; 6.200 t).
Em março de 1997, a história da Bre-X começou a ruir quando a Freeport MacMoRan enviou uma equipe de técnicos para investigar o depósito, e concluiu que a jazida de Busang possuía quantidades insignificantes de ouro após conduzir testes em amostras de testemunho.
De acordo com a lenda, em 19 de março de 1997, Michael De Guzman caiu de um helicóptero na selva da Indonésia. Embora tenha sido encontrada uma carta de suicídio, há rumores de que ele tenha sido assassinado ou até mesmo forjado sua própria morte.
Um dia após essa notícia, as ações da Bre-X despencaram 82%, levando milhares de investidores à falência.
Após uma auditoria, a Strathcona divulgou seu relatório, concluindo que a descoberta considerada a mais importante do século foi, na verdade, uma farsa sem precedentes na história, baseada em dados adulterados.
A fraude da Bre-X teve um impacto significativo na indústria mineral e nas bolsas de valores mundiais que negociavam ações de empresas de mineração e exploração, especialmente as Junior Companies.
A desconfiança gerada pela fraude resultou em uma queda global na exploração mineral e na necessidade de revisão e adequação dos códigos de mineração em todo o mundo.
Além disso, novos regulamentos e recomendações foram estabelecidos para garantir boas práticas mais rigorosas.
A consequência mais significativa da fraude foi a consolidação das condutas internacionais para a declaração de recursos e reservas minerais em transações nas bolsas de valores.
Hoje, temos códigos, como JORC, NI 43-101, SAMREC, CRIRSCO e o novo Guia da CBRR no Brasil, que promovem boas práticas em conformidade com as regras governamentais e os mercados financeiros de cada país, estabelecendo normas para a apresentação de resultados de pesquisa mineral por profissionais competentes, qualificados e certificados pelas comunidades geocientíficas internacionais reconhecidas.