Tremor em SP Instabilidade Tectônica da Faixa Ribeira (junho 2023)

No último dia 16/06, um tremor de magnitude 4 atingiu a região do litoral de São Paulo.
O abalo não foi considerado um terremoto, por não gerar danos à população, mas também não passou desapercebido.  Os tremores foram sentidos pela população em cidade como Iguape, Peruíbe e Itariri.
Segundo uma nota do Centro de Sismologia da USP, o epicentro do tremor ocorreu entre as cidades de Miracatu, Iguape e Itariri. Mas a ocorrência de tremores na região não é novidade.
Os dados da Rede Sismográfica Brasileira mostram que há um grande número de terremotos ocorridos no entorno desta área.
No estado de São Paulo, o maior terremoto já registrado ocorreu a noroeste a área em 1922, próximo de Mogi-Guaçu, e atingiu mais de 5 pontos na escala Richter.Os tremores de terra ao longo de bordas de placas tectônicas são fáceis de explicar, pois há uma movimentação tectônica quase que constante nestes locais.
Mas, na margem sudeste do Brasil? Estamos ou não estamos em uma “margem passiva”?
Pelo visto, a margem continental brasileira não é tão passiva.
Existem processos que ocorrem no manto terrestre que dão certa instabilidade a regiões que estão fora da borda de placas tectônicas, gerando movimentação horizontal ou vertical da crosta.
Podem ser causadas, por exemplo, pelo reequilíbrio de forças físicas, por esforços vindos de regiões das bordas de placas. Ou ainda, podem ser ligados a processos internos do planeta, como a ação de correntes de convecção, mais ativas em alguns pontos do que em outros. Os terrenos geológicos da região do litoral de São Paulo estão dentro da Faixa Ribeira, uma região da crosta continental situada no litoral sul-sudeste do Brasil.
A instabilidade tectônica da Faixa Ribeira ao longo do tempo, ao menos desde o início da formação do Atlântico, é indicada por uma série de tipos de dados geológicos, como traços de fissão de apatita, modelos numéricos, estudos tectônicos diversos, e dados geofísicos.Tudo indica que a litosfera continental sob a Faixa Ribeira é mais fina do que o entorno, pelo menos em terra.
Além disso, dados de grande escala, sismológicos e eletromagnéticos, sugerem que o manto sob a Faixa Ribeira é rico em fluidos. Isto significa que o manto deve ser mais ativo, pela ação de correntes de convecção, do que a parte mais continental do Brasil.
Isto pode ser parte importante da origem da instabilidade tectônica na região.A Faixa Ribeira, ou Orógeno Ribeira, está ao longo do litoral sul-sudeste do Brasil, e abrange desde o limite entre Santa Catarina e Paraná, até os limites ente Rio de janeiro e Espírito Santo.
Toda esta região foi muito ativa em termos de tectônica e vulcanismo, e foi formada durante o fechamento do Pangeia, há cerca de 600 milhões de anos atrás (Neoproterozóico). Sua formação envolveu a colagem de terrenos mais antigos, dobras e vulcanismo, por exemplo.
Outra característica desta área é que ela era circundada por crátons (Craton Angolano e Cráton do São Francisco).

Referencias

Szameitat, L. S. A., Heilbron, M., de Aragão, M. A. N. F., Manatschal, G., Ferreira, F. J. F., dos Santos, A. C., & Mohriak, W. U. (2023). Geophysical evidence for lithospheric scale asymmetry and inherited mantle in the SE Brazilian-Angola and newfoundland-iberia rifted margins. Journal of South American Earth Sciences, 104214.

Fonte-Boa, T. M., Peifer, D., Fonseca, A., & Novo, T. A. (2022). The southeast Brazilian rifted continental margin is not a single, continuous upwarp: Variations in morphology and denudation patterns along the continental drainage divide. Earth-Science Reviews, 231, 104091.