A Arte imita a vida “OURO E COBIÇA”

O filme “Ouro e Cobiça” (“Gold” em inglês) estreou no Brasil em 2017.

A história é envolvente, muito bem conduzida pelo diretor Stephen Gaghan e pela atuação dos protagonistas Matthew McConaughey e Edgar Ramírez. É um filme que agrada os amantes da mineração, pois faz uma releitura do famoso caso da Bre-X, empresa que noticiou uma descoberta incrível de ouro, e causou um grande tumulto na economia mineira nos anos 90.

O personagem Kenny Wells, fundador da empresa, foi inspirado no empresário canadense David Walsh. E o geólogo da história vivido por Edgar Ramírez, Michael Acosta, representa o geólogo Michael De Guzman.

A trama se passa, aparentemente, na década de 80. Na vida real, a empresa Bre-X Minerals Ltd. foi fundada em 1988. A pequena empresa, iniciada em Calgary (Canadá), é representada no filme pelo nome “Kenny Wells”.

No filme, o local da empresa foi transferido para Reno, Nevada, o que deixou a história mais interessante. Além disso, no filme, a empresa muda de nome para Washoe Mining Inc. Apesar destas mudanças, o golpe e a crise financeira resultante seguem os fatos reais.

Na história da Bre-X, em 1993, a empresa contrata um conhecido geólogo, e adquire uma promissora área para exploração de ouro em Busang, na Ilha de Borneo. Quanto a isso, o filme representa bem o cenário que facilitou o desenrolar do “conto” da vida real: um local remoto dentro de uma selva na Indonésia.

A empresa inicia com capital de giro quase inexistente, e antes da descoberta na Indonésia, Walsh estava falido. Após o início da pesquisa, declarações da empresa sobre descobertas de altas concentrações de ouro geraram uma espantosa subida no valor da empresa no mercado de ações, e a jazida é divulgada publicamente até mesmo por parte do governo indonésio.

Em cerca de três anos (1993 a 1996), a jazida de US$ 80 000 passa a mais de dez bilhões de dólares em valor, um sucesso avassalador. Seguidas declarações e reavaliações chegam a estimar 200 m.o. de reserva total.

No início de 1997, uma empresa parceira (Freeport McMoRan, Estados Unidos) inicia atividades de avaliação da jazida em paralelo, e percebe que as avaliações não conferem com os relatórios da Bre-X. Houve um intenso debate entre as duas empresas, até que finalmente foi contratada uma auditoria externa.

Com a realização da auditoria independente, foi constatado não haviam condições geológicas para existir uma jazida no local. O anúncio público de fraude foi feito em março de 1997. Constatou-se que as amostras eram adulteradas ainda em campo e então enviadas para análise. Tudo havia sido uma simulação da empresa para divulgar uma jazida inexistente.

No filme Gold, esta atitude é retratada como uma medida do geólogo, que estaria “movido pelo desespero”, pela falta de dinheiro e ausência de descoberta.

A crise financeira desencadeada pela Bre-X afetou milhares de investidores, e deixou clara uma falha grave no processo de comunicação de descoberta mineira da época: a falta de um processo bem estruturado em normas e regulamentações para indicação de recursos e reservas.

Desde o ocorrido, o processo de reportar uma descoberta já é muito mais controlado e segue padrões rígidos, para que esta história não se repita.